Introdução à Geologia

A história da Terra é muito longa. Uma história que se desenrola há cerca de 4.600 milhões de anos e que o homem vem a escrever há cerca de 5 mil anos. Na Geologia os caminhos da história raramente são direitos.

É próprio de uma falsa ciência nunca descobrir o que é falso, nunca reconhecer a necessidade de renunciar seja ao que for, nunca mudar de linguagem. Não esquecendo que a história da verdade, e só da verdade, é uma noção contraditória. Aquilo que hoje é impossível amanhã é do censo comum.

Foi opinião geral que a Terra teve sempre o mesmo aspecto desde a sua origem. As montanhas, os vales, as planícies, os rios e os mares que nos rodeiam não sofrem alterações visíveis durante a nossa existência. Desde sempre que o homem observa e usa a Natureza e faz especulações sobre ela. Observou em muitas rochas a presença de impressões (fósseis) com a forma de conchas, ossos de animais e folhas de plantas. Ao longo de muitos séculos aquelas impressões excitaram a curiosidade e estimularam a imaginação, tendo originado inúmeras explicações. Assim foram consideradas como criações de espíritos maus ou bons sendo designadas como "cobras de pedra", "pedras de trovão", "pedras mágicas" e "pedras de sapo", ou como resultado da acção das radiações do Sol ou das estrelas; outros, preferiram olhá-las como facécias do reino mineral imitando formas de plantas e de animais existentes na natureza; outros, ainda, consideraram-nas restos das primeiras tentativas do Criador, que teria rejeitado os esforços primitivos quando, com o aperfeiçoamento da prática, adquiriu proficiência suficiente para criar as formas de vida actuais.

Pitágoras (580-500a.C.) teve a verdadeira intuição acerca da natureza das referidas impressões (fósseis). Contudo, ainda no século XVII, Plot admitia que as marcas (impressões - fósseis) observadas nas rochas seriam o resultado de propriedade inerente à Terra a qual originaria as marcas como ornamento das regiões ocultas do Globo, da mesma maneira que as flores são o ornamento da superfície. Mesmo no século XIX, um decreto teológico de Oxford afirmava que o Diabo tinha colocado aquelas impressões (fósseis) nas rochas para enganar e embaraçar a humanidade.

Foi Leonardo da Vinci (1452-1519), que realizou estudos importantes nos domínios da Geometria, Biologia, Geologia, Astronomia e Anatomia, quem esclareceu o problema das impressões (fósseis). O método utilizado por Leonardo da Vinci nas suas observações e deduções foi de importância fundamental para o estudo da história da Terra, tendo, deste modo, resolvido o problema do significado dos fósseis. Pese este facto as discordâncias, as rivalidades e as ideias dominantes da sociedade, em cada época, dentro da comunidade científica sempre foram obstáculo ao avanço da ciência. Veja-se Plot, século XVII, e o decreto teológico de Oxford, século XIX.

Nicolau Steno (1638-1686), foi um dos primeiros investigadores a redescobrir a verdadeira natureza dos fósseis.

Georges Cuvier (1769-1832) prestou muitas e importantes contribuições à História Natural, no que se refere a espécies extintas e à reconstituição de alguns fósseis dando-lhe o aspecto que teriam quando eram vivos. Foi defensor de uma versão da história da Terra, segundo a qual uma sucessão de catástrofes teria exterminado as primitivas formas de vida, sendo a última destas catástrofes o Dilúvio descrito na Bíblia.

Johann Gottlob Lehman e Christian Fuchsel, dois naturalistas do século XVIII, mostraram que o contraste morfológico observado na Turíngia, centro da Alemanha, resultou de os fenómenos responsáveis pela formação das montanhas do Harz serem diferentes dos que originaram as planícies da Turíngia; isto é, a história geológica da região foi condicionada por dois episódios distintos. Lehmann evidenciou a sequência de fenómenos da história da Terra gravados nas sucessivas camadas rochosas.

James Hutton (1726-1797), considerado o fundador da geologia moderna, fazendo uso da observação de campo dos fenómenos actuais deduziu que as mesmas leis físicas actuais que os condicionam terão sido as mesmas que actuaram no passado. Formulou, deste modo, o princípio do Uniformitarismo: o presente é a chave da interpretação do passado. Mais tarde, Charles Lyell (1797-1875), ampliou este princípio aplicando-o a novas situações geológicas, traduzindo-se em novos progressos das ciências geológicas. De facto, as rochas formam-se na natureza actual, obedecendo às mesmas leis que presidiram à sua formação há centenas de milhões de anos.

È de referir o nome de William Smith (1769-1839), que enunciou dois princípios fundamentais da estratigrafia, a lei "da sobreposição dos estratos" e a "das camadas identificadas pelos fósseis". Durante quase cinquenta anos, percorreu a Inglaterra elaborando o primeiro mapa geológico daquele país.